As "Patricinhas" de Baião
AS PATRICINHAS DE BAIÃO.
Entre
barulhos, felicidade, brilho, fantasias, diversão e muito glamour. Surgia por
trás da igreja, As Patricinhas. Idosos, adultos, jovens e crianças. Homens
transfigurados de mulher, mulheres transfiguradas de homem. Assim, nascia o
bloco que viria ser o mais badalado da cidade. Conversamos com o fundador do
bloco em que ele nos relatou que: "o bloco foi idealizado em uma roda de
amigos, e que o único objetivo deles era a diversão. O bloco se tornou popular
por ser um símbolo único de diversão em nossa cidade e por abraçar todos
aqueles que de alguma forma não tem condições de estarem em outros blocos. A
nossa fantasia é a alegria."
Sua
em música, entoada pelos brincantes mostra que no carnaval não existe vergonha,
e que a única preocupação está em se divertir. Como diz no trecho: "[...]
Não tá com nada essa onda de vergonha, no carnaval é pura alegria, venha amigo,
vista sua fantasia que a nossa festa começou".
Mas
junto com o bloco também surgiu o preconceito; não totalmente, porém, além dos
sorrisos e alegria das pessoas que presenciam, há também os que gostariam de
está ali, mas o medo de se mostrar, de assumir o seu verdadeiro eu os impedia.
Entretanto, há aqueles que ali dão um chega pra lá no preconceito da sociedade
e dão sua "cara a tapa" para mostrar que a felicidade deles é mais
importante que a opinião alheia. Como disse o Danillo: "eu me sinto muito
feliz em mostrar quem eu sou, e me sinto mais feliz ainda em ver as pessoas
felizes ao me ver".
Aquela
quebra de tabu viria aos poucos se acabando, mas como? Através do tempo, e
juntamente com o bloco que vinha ganhando cada vez mais brincantes , admiração
e respeito do público. Os que se dispõem em se transfigurar são sempre vistos
como um brincante que está ali por pura diversão, mas existem aqueles que
transfiguram para sentirem-se livres e serem o que realmente são sem serem
apontados e vistos com preconceito, por que na verdade, no carnaval tudo é
permitido para sentir-se feliz. Inclusive, se caracterizar do sexo oposto.
Carnaval
é lugar de se abranger vários assuntos, até mesmo sobre gênero e homofobia. É
meio contraditório até falar sobre gênero e outros assuntos que englobam esse
tipo de assunto, pois este, ainda é calado pela sociedade preconceituosa e até
mesmo por aqueles que sentem medo de mostrar o que realmente são. Durante uma
entrevista, perguntamos para um homossexual qual a sensação dele está vestido
de mulher, enquanto que no dia a dia ele se veste de homem? Ele simplesmente
disse que: "É tudo mágico. É uma época do ano que ele se sente feliz e que
tudo aquilo tem muita importância pra ele, pois é uma das épocas em que não se
dá muita importância para a sexualidade e para as vestimentas das pessoas,
então, é como está livre.
Assim
como o bloco disperta olhares de admiração, ele também disperta aqueles olhares
que de alguma forma julgam aqueles que estão se divertindo e que estão
transfigurados. Claro que existem os dois lados da moeda, até por que, nem todo
mundo é preconceituoso, e tem aqueles que vão prestigiar e admirar os que estão
por diversão e também aqueles que de alguma forma tentam mostrar para a
sociedade o que realmente são. Como o bloco já é bastante popular, não se ver
muito pessoas chocadas com o modo com que as outras se divertem, mas se vê
muito a admiração e o respeito por aqueles que usam o bloco para sentirem-se de
alguma forma livres sem precisar fingir o que não é. Ser livre vai além de
estar bem consigo mesmo, é olhar para os lados e ver que as pessoas te
retribuem o sorriso que você carrega no rosto, é sentir por algum momento que
você não precisa ser quem não é só para que as outras pessoas se sintam bem, e
acima de tudo, é está leve para voar entre a felicidade e o brilho do carnaval.
Muito olhares são voltados para o
que acontece na rua, mas quase ninguém se pergunta o por que de muitas pessoas
não se vestirem e alguns não gostarem nem de ver o bloco passar. Algo muito
além de gênero, diversão e respeito; é a transfobia. Ela é um dos motivos pelo
qual algumas pessoas deixam de se divertir ou talvez se assumir. Pois ela não
está só nas ruas, ela está também dentro das casas.
Quem nunca ouviu um "meu pai não deixou eu me vestir de
mulher"? Já soube de relatos até na minha própria família de pais que não
deixaram seus filhos se vestir por achar que isso irá mudar a opinião da pessoa
enquanto ao seu gênero. O sentido do bloco está unicamente ligado a diversão.
As outras faces que o bloco adquiriu ao longo do tempo foi pelo fato da
caracterização e por pessoas que encontraram nele uma forma de se libertar dos
estereótipos que a sociedade taxa como certo. Assim, surge a transfobia.
Mas o que seria a transfobia? A sociedade Baionense em
parte, nem sabe o que é isso e o quanto a consequência dela é severa. Mas falar
em transfobia nesse caso é necessário. Ela parte de pessoas que incorretamente
não distinguem identidade de gênero de orientação sexual.
Ouvi uma menina que na verdade se chama "João",
mas que prefere ser chamada de "Daniele". Ela disse: "Eu até
entendo por que as pessoas não sabem se direcionar a mim sem fazer uma pequena
confusão de gêneros, mas ao mesmo tempo eu me questiono o motivo dessas pessoas
não saberem se direcionar a pessoas diante de uma situação dessa. É
constrangedor você ficar diante de uma pessoa que não sabe se te chama de ele
ou ela". E o que muitas pessoas não entendem é que, ao não saber se
direcionar a uma pessoa como essa acaba sendo vergonhoso. A transfobia vai da
simples falta de conhecimento até a violência e a malícia. O respeito e a
tolerância é uma porta para que esse tipo de discriminação seja abolido dos
dias de quem é afetado.
A intolerância frequentemente nasce do nosso
medo e confusão sobre aqueles cujas identidades não entendemos. Nós temos medo
que a diferença deles reflita na nossa semelhança, e na pressa de nos refugiar
no conforto da conformidade, nós demonizamos a diferença.
Sentir-se feliz por está transfigurado não é incomum, essa
forma de se transfigurar no carnaval é uma maneira de entender um pouco sobre
respeito. Pois ser respeitado por algo que você é, é magnífico. Para quem está
ali defendendo e se mostrando que seu verdadeiro eu está além do que a sociedade vê, é a a mais
autêntica forma de liberdade. É ser quem realmente é em uma época em que tudo é
permitido. É está livre e feliz sem se importar se alguém está se incomodando
ou não.
Ainda que muitos sintam-se respeitados e outros se dizem ver
o lado oposto por apenas estarem com roupas do outro gênero, existem aqueles
que se fantasiam de mulher no carnaval e que são homofóbico o resto do ano. Mas
como pode isso? Poder não pode, mas como o carnaval é por diversão e os que
estão ali estão apenas se divertindo, acaba que os olhos não se voltam muito para
se importar com o que "fulano" é ou não.
Percebemos isso quando um cara "machão" se veste
de mulher. O cara passa e arranca risada das outras pessoas. O contrário disso
são os Gays que se vestem de mulher. Os comentários que surgem são: "olha,
já vem se amostrar" ou "não tem nem vergonha nessa cara". Aí eu
pergunto, vergonha de quê? De ser quem ele realmente é?
O bloco As Patricinhas, é uma mistura de tudo. Mas todos que
estão ali é com um propósito único de diversão. E muitos procuram apenas uma
maneira de se libertar dos paradigmas da sociedade.
Por: Alex Viana e Wendria dos Santos.
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