MOCAJUBA: FEIRA DO MERCADO





FEIRA DO MERCADO: VOLTA AO PASSADO                                                          

Ainda lembro-me de quão bom era quando chegava o domingo, era o dia mais esperado da semana, o dia em que meus pais me levavam a fera do mercado, apesar de velha era um lugar onde gostava de ir, aquela ladeira que tinha medo de descer de bicicleta, onde aqueles garotos que vendiam suas coxinhas, que pareciam deliciosas, e que mamãe nunca me deixava comer, logo mais à frente outra passagem a que ia onde ficavam os barcos que vinham dos interiores, um ao lado do outro, e víamos a extensão dos barcos a beira-mar, há como era bom aquele tempo!
As bancas de roupas que nos levavam a outra entrada do mercado, uma ponte, como era quase todo o mercado, o medo que sentia em andar sobre aquelas tabicas que a meu ver os pequenos espaçamentos eram maiores do que eu, que se pisasse neles iria varar e cair em um emaranhado de lixo. Aquela ponte que também daria acesso ao trapiche que aos domingos as pessoas iriam levar seus familiares ao jubileu, único meio de transporte para a capital, e lá ficavam até o barco zarpar.

OS BARCOS

Encantava-me ver aquela extensão de barcos, um no ladinho do outro, sempre me perguntava o significado do que seria as siglas B/M (barco motor) e isso me deixava curiosa para descobrir os porquês daqueles nomes, hoje tive a oportunidade de descobrir, é incrível as histórias que ouvimos, poderia ficar horas ouvindo sem me cansar, descobrir que

A PASSAGEM DAS FRUTAS E VERDURAS

Chamo de passagem de frutas e verduras porque ficava na passagem da feira da carne para feira do peixe, lembro-me do movimento, do vai e vem, do fluxo de pessoas, tudo estava ali, a maça, a uva, o cupuaçu, bacuri, pupunha, frutas deliciosas, os vendedores gritando, a banca da Dona Zuzu era a primeira, lá vendiam as hortaliças, dela gritando “olha o cheiro-verde, o jambú” e quando mamãe comprava ela respondia “obrigada coração” aquilo de certa forma tocava-me hoje é difícil vermos vendedores gentis, logo mais abaixo ficava a venda da Dona Nerita, vendia frutas e verduras e sua mercearia bem na frente, isso me faz até sorrir, pois minha irmã é casada com o filho dessa senhora, relato isso para expressar o tempo e como nossas vidas estão ligadas de certa forma.

OS BARES

Sempre cheios de todos os tipos de pessoas, carregadores, vendedores, os homens que vinham dos interiores, e que deixavam parte ou todo o dinheiro que ganhavam durante a semana, falo com propriedade, pois conhecia alguns deles, eram meus parentes, lá também haviam meninas que ficavam bêbedas e se oferecendo para os homens. As vezes tinham brigas, uma vez aconteceu uma briga onde a mulher saiu correndo atrás de um homem eles iam se trançando pelos becos que tinha por lá. Frequentavam nos bares moças muito bonitas, Cheila e Daniela, ainda muito jovens, porém se prostituíam, se drogavam, achava uma pena, mas não podia fazer nada, pois ainda era muito criança e não podia envolver-me, uma cena que me marcou muito foi a vez em que uma dessas tantas mulheres que lá ficavam, sendo homossexual, mas isso não impedia de se relacionar com homens, a própria mulher encaixou o senhor já de idade e falou se poderiam ficar, ele perguntou quanto era, ela disse 20 reais, ele respondeu que só tinha 5 reais, ela concordou e disse vamos. Os corpos eram tabeladas pela necessidade, e o ir e vim das bebidas... O valor se pedia com as histórias, entre as memórias e experiências tecidas no cotidiano. 


A FEIRA DO PEIXE

A lembrança mais forte que tenho era quando ia com meu pai comprar jutuarana e pescada, para comermos frito com açaí bem grosso, lembro-me que gostava de pegar nos peixes para atestar se estava bom, como a feira ficava sob o rio dava para ver os temíveis botos, se jogássemos um peixe eles vinham, as pessoas tinham contato direto com eles, já eu ficava com medo por causa da famosa lenda do boto encantado, que outrora ouvia, essas são as lembranças são marcantes em minha vida, agora imagine em quem desde pequeno trabalhava e ainda hoje trabalha na feira nova quando perguntado ao vendedor o brilho no olhar a maneira que ele falava, o sentimento que trazia no olhar, a saudade que mesmo usando poucas palavras falava tudo, percebo também o carinho que tem com os botos, a importância e querer guardar restos de peixes para alimentá-los.
                              


MERCADO E OUTRAS VOZES:

As histórias que ouvimos foram fascinantes, pudemos conhecer os fatos desde a primeira feira, onde, o senhor Eládio Lisboa nos relatou que as memorias que tem da feira foi  que a primeira feira ficava em baixo de um jambeiro, que lá mesmo eles matavam o boi para distribuir no mercado, quando lhe perguntado o que a feira representava na sua vida, respondeu que um meio de sobrevivência, de trabalho onde as pessoas fazia suas vendas e ganhavam seu dinheiro.
 Contou-nos que um dia mataram um boi e que um quarto pesava 136 kg, e perguntavam quem era macho o suficiente para carregar aquele quarto e ninguém se habilitava até que apareceu o senhor, hoje falecido, Antônio Wanzeler, e disse que conseguia, quatro homens carregaram e colocaram na cabeça dele, só que na subida do trapiche tinha uma rampinha e quando ele ia subindo veio um rapaz e deu um pequeno toque no seu Antônio e ele não aguentou e jogou o quarto do boi e nesse jogar virou um tapa no pé do ouvido do rapaz, e ele ficou tonto e caiu e levantou umas três vezes.
Além dos relatos de que na feira antiga era mais divertido era melhor para vendas, o senhor Eládio diz que resgataria as experiências que exista na feira antiga, além do pairé que era um paneiro pequeno, ou uma sacola grande de material reforçado onde os antigos levavam para feira para trazerem suas compras.
A dona Zuzu sempre muito divertida quando chegamos logo soltou princesas para nós, nos contou que a feira representa muito em sua vida, que por não ter trabalho e nem ser aposentada foi um meio de criar e formar seus filhos e de la tirava e tira seu sustendo, conta que foi uma das mais antigas trabalhadoras que existe, e  como sente falta daquele tempo, onde tudo que colocavam era vendido.
Relata que como ficava na passagem, quando os compradores passavam já levavam o limão, carvão, cheiro verde, e que hoje não tem muito movimento, e que agora eles vigiam suas bancas, lembra e se diverte falando de seus filhos que não tinha com quem deixar e levava-os para la, e eles comiam farinha e roíam açaí, e iam aprendendo o oficio e hoje seguem os seus passos e trabalham com ela, que foi a semente que plantou e cresceu.
E que resgataria a convivência com seus colegas e o movimento de pessoas, e sente falta do movimento que hoje só é por datas comemorativas, e antigamente não, tem muita saudade daquele tempo, relata das crianças que trabalhavam e ajudavam suas famílias e hoje o conselho tutelar não deixa, e que era exemplo de vida, fala que as crianças de hoje procuram outros meios de vida como a prostituição pois não podem trabalhar.
Dona Maria contando a história do seu barco, ela contou que por ser evangélica escolheu para seu barco o nome de nova canaã, porque significa terra prometida e que já é o terceiro barco dela com esse nome.
O vendedor de peixe nos emocionou pois pudemos ver o olhar entristecido dele ao falar da feira antiga , que em suas memorias lembra que começou a trabalhar muito moleque e lembra que na feira velha cuidava dos botos bem na birinha do rio e alimentavam eles e até colocavam dentro do casco deles, e diz que hoje as pessoas maltratam um pouco eles e que ele não gosta disso.

Ele guarda em suas memorias os senhores antigos que uns já faleceram e outros pela idade não vão mais ao mercado, e ele sente falta e que na feira antiga a venda era melhor e que ele resgataria, a nossa feira velha, esse sentimento com que ele falava o carinho que sentíamos ao ver ele se expressando.

Hoje nos restam lembranças daquele tempo, saudades daquela feira velha, muitos dizem sentir falta e que não deveria ter sido demolida e sim restaurada, pois era patrimônio público e apesar de que muitas pessoas criticavam por ser velha e por questões de higiene, mas tem muitas historias e relatos bons, lembranças de pessoas que recordam com saudade, é difícil falar sem dor no coração.
Feira nova ou mercado municipal como é chamado, não se compara com que era aquela velhinha de tabuas e ripas, onde quando íamos sempre era felicidade, hoje pouco vou lá, o desejo não é o mesmo nenhuma das pessoas entrevistadas queriam mais essa nova do que a antiga.

AUTORAS: Maissa Cardoso e Renata Ribeiro 






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